É sem duvida um Natal diferente ...
Desde logo porque é "apenas" um fim de semana .
Mas sobretudo porque todos sentimos que será apenas o primeiro, de muitos outros que se seguirão, com muito desemprego, com mais pobreza, sem grande futuro para os portugueses mais jovens.
Encontramo-nos na véspera da Batalha de Alcácer Quibir. Que sabemos que iremos perder. Que é impossível vencer, perante adversários fortes, jovens, disciplinados, ávidos de glória e determinados.
Estamos envelhecidos, desmotivados, sem ideais, desorientados, sem rumo, com um "exército" impreparado e sem generais que nos conduzam.
Seguir-se-ão os dias de nevoeiro. Muitas manhãs esperando o regresso de um qualquer Desejado. Que não virá!
Esperam-nos provavelmente outros 60 anos sem soberania, governados por estrangeiros, sem estratégia própria. Faremos o que nos mandarem. E agradeceremos o pouco que nos derem. É o nosso fado !
Camões, Os Lusíadas, Canto III, a propósito de D. Fernando,"O Formoso", que já nessa altura a vaidade e as aparências eram das nossas grandes pechas :
138 - D. Fernando
"Do justo e duro Pedro nasce o brando,
(Vede da natureza o desconcerto!)
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto:
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.
Foram de facto muitos reis fracos. Durante as últimas duas, três décadas!
Sobreviveremos? Certamente que sim, que somos um povo talhado no sofrimento
e na dor.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Mas nelle é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa, Mar Portuguez)
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