quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Portas de Rodão... e Portões de Ferro !

  Situam-se quase em extremos opostos da Europa. São ambos monumentos naturais, de cariz geológico envolvendo rios.
  As nossas singulares Portas de Rodão situam-se no rio Ibérico mais extenso - o Rio Tejo, cujos 1035 km de comprimento o situam na 160ª posição mundial entre todos os rios, sendo o décimo quinto de toda a Europa e o sexto da União Europeia.


   São o que resta de uma enorme cascata e de um imenso lago a montante, a que a erosão e os deslocamentos das placas geológicas sob a ação de sismos, foram moldando no Tejo.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Monumento_Natural_das_Portas_de_R%C3%B3d%C3%A3o

  Atente-se nas linhas divisórias das bacias hidrográficas da Europa, ou seja, as linhas imaginárias a partir das quais as águas correm para um dos lados dos mares ou oceanos e que naturalmente quase sempre vão coincidindo com um contínuo de picos e cordilheiras montanhosas mais elevadas:


 Repare-se como existem 6 pontos triplos, isto é, vértices em que as águas se dividem em três bacias hidrográficas distintas. Dois desses pontos triplos situam-se bastante próximos, nos Alpes, constituindo-se quase como um único ponto quadruplo, daí chamar-se a essa região o teto da Europa, ao separarem as bacias do Ródano / Ebro (a drenar para o Mediterrâneo), do Reno (a drenar para o Atlântico / Mar do Norte), do Pó (a drenar para o Adriático) e a gigantesca bacia dos 3 DDD - Danúbio / Dinieper / Don (a drenarem para o Mar Negro e Mar de Azov).
 O primeiro desses dois pontos triplos muito próximos tem 3082 m de altura, é o Witenwasserenstock situando-se nos Alpes Suiços:


O segundo, situando-se a leste do primeiro e também na Suiça, nos Alpes Grison, fica próximo do Piz Lughin, uma passagem alpina famosa:


 A partir deste ponto as águas afluem ao rio Pó, que termina em linha reta a 275 km a sul no Mar Adriático, ou afluem ao rio Reno que termina 740 km a norte no Mar do Norte ou então encaminham-se para o rio Danúbio que só irá terminar 1560 km a leste no Mar Negro.


  O rio Danúbio, com os seus 2860 km de extensão é o maior rio da União Europeia e o segundo de toda a Europa, sendo suplantado apenas pelo rio Volga com 3690 km totalmente em território russo, o que todavia apenas lhe confere a 17ª posição mundial.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Volga

  O Danúbio atravessa tão só 10 países, dos quais 7 da União Europeia, e constitui-se em largos troços como fronteira natural entre muitos deles. Alemanha, Áustria, Eslováquia, Hungria, Croácia, Sérvia, Bulgária, Roménia, Moldávia e Ucrânia são sucessivamente atravessados pelo Danúbio que passa inclusivamente por muitas das suas capitais. 



  São os casos de Viena,


Bratislava,

 Budapeste

 e Belgrado.



http://www.entreculturas.com.br/2011/07/danubio/

 E é justamente na fronteira entre a Sérvia e a Roménia, que numa extensão de aproxidamente 150 Km aproveita a divisão natural constituida pelo rio Danubio, que se situam as formações geológicas conhecidas por Portões de Ferro, com alguma semelhança com as nossas Portas de Rodão, se bem que com muito maior imponência.





  A construção da Barragem dos Portões de Ferro, veio de alguma forma a domesticar um troço do Danúbio que desde sempre se apresentou bem selvagem, bravio e tormentoso.



Mas que como todas as intervenções humanas em espaços naturais, nunca é feito sem custos:






Fiquem a conhecer um pouco em mais detalhe os Portões de Ferro, na fronteira entre a Sérvia e a Roménia:



Terminamos com o esplendoroso Danúbio Azul de Johann Strauss II. Deliciem-se uma vez mais, agora com uma interpretação bem clássica:



domingo, 26 de agosto de 2012

Vila Velha de Rodão...

  A geologia marca-lhe a identidade.
  As Portas de Rodão são incontornáveis.


  Já no paleolítico os nossos ancestrais aproveitando a proximidade do Tejo, por lá se estabeleceram, como atestam as vastas gravuras rupestres do Vale do Tejo, maioritariamente submersas pelas barragens de Belver e do Fratel numa época em que a sensibilidade a estas temáticas não foi de molde a deixá-las à superfície, restando o consolo de as saber perservadas em profundidade.









A estação arqueológica de Vilas Ruivas muito veio a contribuir para o conhecimento e divulgação do Paleolítico Superior por aquelas paragens no Vale do Tejo.


  Os romanos estabeleceram-se e durante mais de um século terão levaram consigo pelo menos 3 toneladas de ouro.




 O que se encontrava mais à flor da superfície, que o mais profundo e mais difuso ainda lá está, à espera da tecnologia dos nossos tempos, que o permitirá explorar de uma forma mais sistemática, no que irá ser nos próximos tempos uma aposta decisiva nos recursos naturais e minerais nacionais, que a escassez mundial de metais nobres e consequente alta de preços por eles atingidos, voltou a suscitar o interesse de todos. Pena só, que o pouco domínio da tecnologia envolvida e a falta de capitais das empresas nacionais, nos force a ter de recorrer a empresas estrangeiras para a exploração de recursos que são nossos e que em alguns dominios, não são tão poucos quanto isso.


  Depois dos romanos, os visigodos dominaram a região.



  Seguiram-se os muçulmanos e a consequente reconquista cristã. Zona de fronteira durante séculos, que a linha do Tejo entregue aos Templários e posteriormente à Ordem de Cristo, sempre foi estruturante no que viria a ser Portugal. As relações sempre tensas entre mouros e cristãos bem espelhadas nas lendas que até ao nosso tempo chegaram.


  O Tejo, essa via rápida que colocava o interior a bem pouca distância temporal da capital do Reino e do mar. Vila Velha de Rodão, dispunha no seu porto fluvial o seu grande trunfo económico.




 Depois o caminho de ferro, com a linha da Beira Baixa a substituir-se ao açoreamento e à construção das barragens.


  Por fim, a industria da celulose, que transforma as madeiras da região em pasta de papel e que se constitui na  principal fonte de riqueza do concelho na atualidade.




  E agora o regresso às origens. À geologia que sempre a moldou, ao integrar o Geopark Naturtejo.


 


sábado, 25 de agosto de 2012

Monte do Arneiro: "O Túlio"...


  Ainda a propósito do nosso herói Manel Ceguinho, gostaríamos de evocar a excelente jornada de confraternização e convívio que a Escola Secundária de S. Lourenço em Portalegre levou a cabo no final do ano letivo de 2009/2010, visitando Vila Velha de Rodão, o monumento natural das Portas de Rodão,




 integrado tanto no Parque Natural do Tejo Internacional


 como no Geopark Naturtejo;


bem como ainda o Castelo do Rei Wamba, o vislumbre do Conhal do Arneiro e terminando numa deliciosa almoçarada no Restaurante "O Túlio" no Monte do Arneiro, onde no final o anfitrião Inácio nos brindou com contagiante alegria e interpretação dos mais diversos temas populares, entre os quais o célebre Manel Ceguinho.




http://www.a23online.com/2009/10/27/o-tulio-uma-descoberta-a-duas-dentadas-do-tejo/

  Ficam as imagens desse dia memorável e o agradecimento ao nosso caro professor bibliotecário, Carlos Serra, que em tão boa hora promoveu tão louvável iniciativa.



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Manel Ceguinho...


 Terminados que estão os Jogos Olímpicos de Londres, pode-se agora em jeito de balanço afirmar que se constituíram numa assinalável afirmação do contributo britânico ao Mundo, reforçado por uma capacidade organizativa simplesmente exemplar bem como pelo empenho, participação, sentido cívico, mobilização, simpatia e hospitalidade de todo um povo. Realçaríamos a generosidade de uma imensa mole humana de voluntários e a exaltação que foi efetuada do Serviço Nacional de Saúde Britânico,


como sendo um dos seus principais contributos civilizacionais ao Mundo, a par de tantos outros em domínios tão dispares.


 Ficou assim bem expresso mais uma vez, a afirmação por parte de um dos membros mais influentes da União Europeia, que o Modelo Social Europeu é uma conquista civilizacional da Humanidade, e que sobretudo os respetivos Serviços Nacionais de Saúde são inegociáveis, e tanto assim é, que em todos os demais blocos económicos, tal é o referencial de bem estar social a que todos os povos aspiram alcançar.

  Posto isto, reinicia-se agora todo um novo ciclo desportivo que culminará em 2016 no Rio de Janeiro, naquela que será a primeira vez que o movimento olímpico se reunirá na América do Sul e num país da lusofonia, com o gigante Maracanã


a ser transformado no palco das cerimónias de abertura e de encerramento dos próximos Jogos, e onde se disputarão também os encontros de futebol, se bem que não será a sede das competições de atletismo que decorrerão no, esse sim, Estádio Olímpico João Havellange,


e ainda por sua vez o autódromo de Jacarepaguá virá a ser transformado em Parque Olímpico.



 Aquele que foi o maior estádio do mundo, o estádio do Maracanã, e que ainda hoje detém o record da maior assistência a um jogo de futebol (quase 200 mil espetadores), sendo que apesar dos sucessivos melhoramentos que sobretudo por razões de segurança lhe foram sendo introduzidos e lhe foram diminuindo a capacidade de espetadores, ainda é o maior do mundo em área ocupada, encontra-se mais uma vez em obras de remodelação, sendo este o ponto da situação há menos de 6 meses,


 e que lhe permitirá  albergar já em 2013 a Taça das Confederações em futebol,


as cerimónias e os jogos de abertura e de encerramento do Campeonato Mundial de futebol em 2014,


 e claro está, as cerimónias de abertura e de encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016,


 que sabe-se já, serão da responsabilidade de um português de Viseu, se bem que radicado no Brasil há mais de 50 anos - Abel Gomes. Conheça a história deste beirão que terá a seu cargo tamanha responsabilidade:

http://oglobo.globo.com/rio/abel-gomes-cerimonias-das-olimpiadas-serao-desafio-3279715

 Não será muito difícil prever, que atendendo à rotatividade continental, seguir-se-á provavelmente em 2020 o mundo islâmico na receção do movimento olimpico, com a Turquia ao fazer a ponte entre a Europa e Ásia, e mais ainda, entre o mundo dito ocidental e o mundo islâmico mais moderado, muito bem colocada para o efeito, como de resto já em dezembro último tínhamos prognosticado:

http://clubeuropeuessl.blogspot.pt/2011/12/jogos-olimpicos-de-2020.html

  Falta já pouco para o respetivo anúncio, que ocorrerá no próximo dia 7 de Setembro em Buenos Aires, na Argentina. 


  Em 2024, África quererá e com toda a justiça ser palco também e pela primeira vez da Organização do maior evento mundial, pelo que a sua linha da frente, ou seja a República da África do Sul se posicionará a jeito, apresentando a candidatura da sua cidade mais emblemática - a Cidade do Cabo.


 Não venceu em 2004, tendo perdido para Atenas, quando os Jogos voltaram a casa, mas na próxima a vitória sorrir-lhe-á por certo e com todo o merecimento.
 Bartolomeu Dias terá então o seu reconhecimento universal e mais uma vez o Adamastor e o cabo da Tormentas serão transformados em Cabo da Boa Esperança para todo um continente que tão fustigado tem sido pelo sofrimento e pela dor.


  Já em 2028, o segundo país mais populoso do mundo, não quererá por certo alhear-se dos restantes em termos de acolhimento e de recuperação do seu atraso do ponto de vista atlético que chega a ser confrangedor, pelo que a Índia, a manterem-se os atuais níveis de crescimento económico se posicionará para a organização dos Jogos Olímpicos, provavelmente com a sua capital Nova Delhi, sendo o último dos pujantes BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e South África a fazê-lo.



As enormes dimensões territoriais, a imensa população, os recursos naturais quase inesgotáveis, a juventude, o querer vencer, a pouca divida pública e o estado social de reduzidas dimensões facilitarão toda essa ascensão.


Os MIST seguem-lhes as pisadas - México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia, dos quais apenas a Turquia e a Indonésia ainda não tiveram a honra de receber os Jogos Olímpicos.


 Bem, então e nós ?
 Infelizmente continuaremos a integrar os P I I G S - Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha,


que a falta de dimensão territorial, a falta de gente, a falta de recursos naturais, a população envelhecida, o pouco gosto pelo risco e o conformismo com o nosso fado, a falta de disciplina e de pontualidade a propósito de tudo e de nada, o irrealismo arreigado e as utopias recorrentes, a imensa divida publica e um estado social configurado muito acima das nossas possibilidades, aliado a uma tremenda falta de rigor a todos os níveis da nossa sociedade, não nos deixarão alternativas nas décadas mais próximas.

 Estudo PISA / 2009, será coincidência ?


 Desportivamente, e no dia em que se inicia mais uma edição da Volta a Portugal em bicicleta, que se constitui sempre como a festa de reencontro de Portugal consigo mesmo, e com os portugueses que vivem fora do país, continuaremos a ser um pouco como o Manel Ceguinho, o protótipo do português voluntarioso mas inconsistente e inconsciente, sobrevalorizado as suas capacidades e forças, mas incapaz de as saber dosear e sobretudo incapaz de manter um rumo coerente e de médio e longo prazo, e acima de tudo, incapaz de olhar com olhos de ver, negando as realidades, que como é bem sabido, não há maior cego do que aquele que não quer ver.